segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Meu buraco é mais em cima

Eu pediria desculpas se não tivesse a absoluta certeza de que sou a pessoa que mais sofro. Tá bom, eu vou pedir desculpas, mesmo sem saber se alguma pessoa entrou aqui nos últimos dias buscando uma nova postagem e não encontrou. Eu finjo que fiz vocês sofrerem e me sentirei importante (embora culpada), vocês serão complacentes com a minha louca rotina e se sentirão acolhedores. E todos ficaremos felizes.


Até porque hoje eu vou escrever para você, leitora, que não tem tempo para nada. Que está em casa pensando no trabalho e no trabalho lembrando do que ficou para trás em casa. Que tem um milhão de projetos e que não tira nenhum do papel. Que gela quando a luz vermelha do blackberry acende ou quando alguém da escola do seu filho liga no meio da tarde para o seu trabalho. Sim, leitora amada, acabou a laranja lima! Acredite, mas o seu filho começou a vomitar na manhã do dia em que trocaram o seu chefe e você tinha uma reunião com ele. Ah, olhe bem sua agenda, não era só isso! Você também tinha uma consulta na dermatologista marcada há dois meses, esqueceu de novo do aniversário da sua comadre e deu férias para o seu assistente. Não se esqueça que sua babá precisa trocar o canal do dente e que seu marido marcou um choppinho hoje a noite para desestressar. Não deixe de ligar para a sua mãe e dar uma checada no negativo do banco. O boleto da escola não chegou e vai ter que ligar para lá e verificar o que aconteceu.

Eu juro que não sou diferente em absolutamente nada do que qualquer uma de vocês. Também quero ficar bonita e vivo de dieta. Amo meus filhos mais que tudo e me esforço para que meu casamento seja sempre um motivo de alegria e satisfação. Gosto de cuidar da minha casa e da minha família e tenho objetivos nada humildes na minha vida profissional. Também quero dar atenção aos meus pais e não esquecer da minha vida social. E muito menos da minha saúde, claro. Reciclo lixo, faço análise, aprendi a cozinhar e tenho uma lista completa de tudo o que acho que está errado em mim. Quero mudar, fazer e acontecer. E nada será entregue sem o meu selo de qualidade.

De novo, igualzinha a você.

Eu não tenho nenhuma fórmula secreta para ser ser feliz no meio de tantos "to do's" mas, fato, descobri que é preciso deslocar algumas dessas funções para a coluna dos "not to do's". O que vai ser é que é o mais difícil, nunca encontrei nenhuma mulher que fosse 100% tranquila em não fazer alguma tarefa que julgue ser sua. E como sempre achamos que todas as tarefas são nossas, a conta acaba não fechando. Maldito instinto maternal, praguejemos nosso excesso de responsabilidade! Mania insuportável de querer carregar o mundo (e todos os homens!) nas costas.

O pior não é isso. O que pesa é a culpa. A culpa de fazer mal feito, a culpa de não fazer, a culpa de transferir, a culpa de negar.

Novamente, igualzinha a você.

Se consola, e se pudesse de fato dar um conselho para ser feliz no meio disso tudo (até porque me considero uma mulher extremamente feliz), diria que o caminho, a luz do túnel, os pirilampos do campari e o pirulito que acende da vida das mulheres está na força. Não, não nessa. Na força de nos obrigar (eu disse OBRIGAR) a sempre fazer coisas apenas para você. O que você ama fazer sozinha? Eu não vivo sem meus livros, meus filmes, meus cadernos e minhas canetas. Preciso escrever, preciso. Preciso. Amo minha taça gigante de vinho e não vivo sem um bom café. E tenho mania de mãos. As lavo 20 vezes por dia e passo hidratante toda hora para deixá-las cheirosas.

Encontre tempo, ache, cave, crie. Você é capaz de fazer tanta coisa que isso vai ser fichinha. A grande verdade e, por isso mesmo, a mais difícil de encarar, é que a gente só não faz algo que não quer.

Porque as mulheres vão dominar o mundo, é só olhar em volta. Faça isso agora mesmo: olhe seu escritório, dê uma volta na rua, vá a algum banco e repare melhor na escola do seu filho. Porque alguém ainda contrataria uma mulher mesmo sabendo que nossa vida é, invariavelmente, enlouquecedora? Porque a gente surta mas não perde a compostura e, puta que o pariu (tem horas que só palavrão cabe) a gente dá conta.

A que preço conto daqui a alguns anos. Por enquanto, sigo minha deusa de cabelos cor de fogo, e acredito que sou mesmo mais macho que muito homem.



Acordem cheias de marra amanhã, meninas. Boa noite.

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"No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho"