Hoje
eu estou sentimental e não é porque é sexta e está sol. Há 28 aninhos, dona
Miriam deu a luz ao terceiro filho, uma menina que eu não sei se era linda – já
que ainda não era nascida – mais que alguns anos mais tarde viria a ser uma das
pessoas mais especiais que já conheci.
Não
me lembro ao certo em que ano ou série nos conhecemos, mas deve ter uns 20 anos
mais ou menos. Ela, super popular na escola. Eu, nerd com aspirações a cool. Ao
invés de bullying, ela foi fofa e me aceitou no seu seleto grupinho. O porque
eu também não me lembro, são tantas coisas a puxar pela memória que seria
inviável me lembrar de detalhes.
Crescemos
e aparecemos juntas! Eu tava lá quando ela ganhou sua cachorrinha e ela viu
quando meu primeiro amor me partiu o coração. Andamos juntas, gostamos das mesmas
coisas, compartilhamos dúvidas (muitas!) e julgamentos. Eu ajudei a programar
sua festa surpresa de 15 anos. Ela brigou comigo quando eu arrumei um namorado
e não queria mais saber das minhas amigas.
No
ano passado tivemos nossa primeira (e única!) briga. Foi antes de ela fazer sua
terceira grande viagem internacional, dessa vez para um mestrado na Inglaterra.
Ela precisava de apoio e eu lhe faltei e até hoje não me perdoo por isso. De
parte dela, ela não queria enxergar o que lhe dizia, e ela não se perdoa por
isso. Amizade sincera beira um pouco disso, é difícil de se perdoar mas incrivelmente
fácil perdoar o outro.
Hoje,
muitos anos se passaram e algumas relações ficaram mais claras para mim. Fê e
eu não temos nada em comum! Ela, uma acadêmica inteligentíssima, busca suas
verdades com uma garra que não me lembro de ter visto em alguém. Fez de sua vida
o que quis e por mais que não perceba continua com as rédeas firmes na mão. Eu
tenho tanto orgulho dela que chega a me assustar: é, de longe, uma das pessoas
que mais torço. Fala 3 línguas, tem dois mestrados e é paga para estudar (!!). Gosta
de samba e se envolver em causas humanitárias quando as julga corretas. É
crítica e correta. E, para mim, o que é melhor: tem a coragem suficiente para
fazer merda, voltar atrás e ainda ficar por lá para entender o que fez de
errado. Dedão na ferida para não correr o risco de se auto enganar.
Eu,
mãe de dois filhos, trabalhadora de 9hs as 18hs, amante de literatura e cinema
ocasional. Transformei a minha vida em dedicação a minha família e tudo em
volta é feito e trabalhado para isso.
Nenhuma
de nós tem tempo para nada e a saudade bate feio quando o calo aperta. Mas
nossa relação é tão vital que já não importa mais: o respeito às prioridades da
outra, o entendimento sobre a pessoa que viramos e a vontade de fazer parte um
pouquinho do mundo que tanto nos separa, faz com que ela continue sendo uma das
pessoas pelas quais eu agradeço todos os dias por ter na minha vida.
A
gente vai ficando velho e seletivo, é o que dizem. E sentimental pelo visto.