quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma salma de palmas para Sr. Allen.

Foi hoje mesmo que estávamos conversando sobre alguns ídolos e, ao explicar minha obsessão pelo Woody Allen logo escutei: você é ainda esquisita que eu que amo o Marcelo Serrado. Foi Marisa, minha companheira da esquerda, que se espantou quando afirmei que se o visse na frente iria dar um beijo na testa dele.


Ah, sim, um beijo na testa. Woody Allen não é só um cara que faz filmes, ele é uma lenda viva. Primeiro pela sua capacidade de produção que é incomparável. Mas, principalmente, por ser o único profissional do ramo que tenho conhecimento que possui financiamento ininterrupto para os seus devaneios. Sim, claro, ele anda tendo algumas dificuldades dentro das américas e anda ciscando lá pela Europa. Houve até um burburinho afirmando que ele poderia vir filmar no brasil (palpitações) mas ele mesmo já afirmou que tem receio pelo calor. Sábio, este senhor, que consegue perceber e assumir suas limitações. E ele pode, ah, ele pode.

Ele fez Annie Hall (“noivo neurótico, noiva nervosa”, em português) e só por este filme ele já não precisaria mais fazer nada. Diane, linda, a mulher com mais personalidade que vi no cinema e que me fez crescer achando que a forma certa de se vestir era a que a gente achava bacana. Anos depois li um livro chamado “Entrevistas com Woody Allen” escrito por Eric Lax, um jornalista que acompanhou Woody por longos anos, onde ele contava que a figurinista de Annie Hall ficava desesperada porque Diane não queria vestir as roupas que ela selecionava para ela. Ia até Woody, buscando intervenção e dizia: “Ela é a protagonista! Não pode aparecer vestida desse jeito!” Ele contou para Lax que quanto mais a figurinista dizia que ela estava terrível mas sucesso a personagem de Diane fazia. Lição nº 1.

Além disso, temos Woody atuando e afirmando que não poderia dirigir porque tinha muita hostilidade e todo o seu nervosismo com figuras de autoridade. E a cena da lagosta, ah, a cena da lagosta. Para mim, o resumo do que um relacionamento amoroso deve ser. Lição nº 2.


Claro, impossível não citar a cena da fila do cinema onde o personagem de Woody simplesmente retira Marshall McLuhan de trás de um pôster para calar a boca de um pentelho metido a intelectual. “ah se a vida fosse sempre assim...”.




Eu poderia escrever horas a fio sobre cada cena. Posso falar de “Hannah e suas irmãs” e posso falar da “veia Bergman” de “Interiores” e da metalinguagem de “A Rosa Púrpura do Cairo”. Claro, posso citar a linda dança de “Todos dizem eu te amo” e a presença de NY marcada em vários filmes destacada em “Manhattan” tal como posso citar as musas Diane Keaton e Mia Farrow . Posso chegar mais pertinho e falar de Scarlet em “Scoop”, “Match point” e “Vicky, Cristina, Barcelona” e, claro, Penélope Cruz, maravilhosa neste último. Cito o nostálgico “Meia noite em Paris” e o genial “Whatever Works”. Meu dia ia ser longo (e delicioso!).




Mas vou só falar que este reservado senhor alegrou a minha vida tantas e tantas vezes que não teria como não venerá-lo. Ele me ensinou a não ter medo de produzir e, principalmente de errar, porque ele também fez muita merda (mais recente “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” mas passando por pérolas como “Celebridades” e “Tudo o que você queria saber sobre sexo e nunca teve coragem de perguntar”). E ele me mostrou a beleza. E que é possível ser engraçado sem ser piegas. Criatividade. Inovação. Humor. Amor. Cumplicidade. Raciocínio.


Por isso, afirmo e reafirmo, sr. Allen. Se desistir do calor e aparecer por aqui, hei de dar um beijo na sua testa e agradecer. Por mais estranho que isso possa soar.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Free

Sem desculpas financeiras para leitura: 100 clássicos para baixar em segundos, totalmente free.

http://www.advivo.com.br/node/722364

Sou chata mesmo. Mas cola em mim que você vai se dar bem! ;)

Thanksgiving

Todo mundo critica para caramba a influência norte americana na cultura brasileira. Eu concordo. Não por achar que a nossa é melhor do que a deles, não acredito em superioridade cultural em qualquer nível, mas por achar que o que se importa não é, digamos, o melhor do povo do Tio Sam. Estava fuçando, dia desses mesmo, material da Tropicália e resolvi entender um pouco mais do movimento. Fácil associar Caetano e Gil e cia, mas eu gosto mesmo é do Jackson do Pandeiro e seu bibope que sola! Mas o mais legal é tentar vê-lo como reação, no caso contra a Jovem Guarda que adorava fazer sucesso com a música alheia. Adoro esta coisa física de ação versus reação. É exato e é preciso, a gente só se coça mesmo quando se sente ameaçado ou ofendido em algum nível. O próprio Caetano, também esses dias, em entrevista ao Jô disse que quanto mais bravo ele ficava mais racional ele se mantinha. Caetano é porreta, isso é difícil para diabo. Admiro-o por tal façanha, que fique registrado.

Mas estou perdendo o foco (como o de costume!) voltemos ao nosso tratado de importação e exportação. Os americanos tem um feriado que eu acho muito legal chamando thanksgiving, não é novidade para ninguém, ele é mais falado que o réveillon na times square ou o natal no central park, mas eu queria entender porque a gente não absorve essa prática linda de fazer uma refeição em agradecimento.

A que? Os motivos encheriam uma lista maior que a dos presentes do papai noel, aposto, é só olhar com carinho. No natal a gente só pede e gasta para tentar suprir tanta necessidade. No ano novo a gente pede ainda mais, dessa vez para o próximo ano inteiro! Quanta energia canalizada para o querer, não? Não sei quem absorve isso (cada um com seu cada um, EU não sei e estou feliz com minha ignorância, antes que alguém pergunte) mas que é muita carga isso é. Quando é que a gente agradece?

Pois bem, tenho meu thanksgiving pessoal e tenho orgulho de dizer que ele faz parte da minha vida. Mas no auge do meu espírito natalino resolvi compartilhar, ao menos a ideia, com a mais ingênua expectativa de que algumas pessoas sigam meu humilde exemplo e façam seus levantamentos. Não, não sou uma pessoa de alto grau de relevância  na web, podem checar. Formiguinha, sigo. Ah, claro, por favor, façamos um esforço mental para não cair nos clichês saúde, amor e tranquilidade, vamos cultuar os pequenos momentos em que a gente realmente quis falar um obrigado gigante e não tinha como ou para quem ou esqueceu mesmo.

Valeu NBS por ter me ajudado a achar o lugar do trabalho na minha vida e por engordar meu currículo. Obrigado Sabrina Frota, minha eterna supervisora, por me enervar com sua mania de perfeição que me acompanha e garante o selo de qualidade nas minhas apresentações (que já me renderam várias estrelinhas, by the way).
Obrigado Marisa Lemos, pela companhia todos os dias. Sem você seria bem mais difícil. Ah, sim, um beijo para Julia Ribeiro que mesmo sem perceber me reforçou o sentido da sinceridade na vida de cada pessoa.
Obrigado ao meu filho Matheus, por ter aprendido tão lindamente a ler e a escrever e por gostar disso! E por ser uma pessoinha tão companheira e amiga mesmo quando seu espaço foi invadido por uma pessoinha mais inha ainda que sabe ser barulhenta de vez em quando. Obrigado meu filho Lucas por ter vindo em um momento tão perfeito e me fazer curtir, de verdade, um bebê de pernas gordas e sorriso farto em casa.
Obrigado a querida Érica. Seu amor por meus filhos já faz de você uma das minhas pessoas favoritas no mundo.
Obrigado aos meus compadres e comadres lindos. As pessoas de alma mais limpa que já topei.
Obrigado às minhas amigas Patricia Gressler e Litza Godoy pela lição aprendida. Vida dá tombo, a gente sacode, toma um porre de prosecco na balada dos adolescentes e volta linda para ver onde mais vai dar.
Agradecimento especial a Fábio Malcher que consegue transformar seu trabalho em algo efetivamente produtivo para a vida dos outros. Eu transformo a vida dele em um inferno e ele está sempre com a mesma disposição. Invejável.
Obrigado a Maria Amorim pela publicação de seu livro. O sonho da gente também se realiza nas pessoas que a gente ama. Um super obrigado a Jorgen Alden que ainda povoa nossa vida com sua energia positiva e sua trilha sonora impecável.
Obrigado ao tio Guilherme e Dona Lucinda pelo o que ficou para trás.
Obrigado a Amadeu Fernandes, outra lição de amor viva, que deve sempre ser observado de pertinho. Obrigado a minha mãe, por ter cuidado de mim e de toda a minha família quando pegamos virose e por trazer doce de leite, pão de queijo e pé de moleque toda vez que volta de Itajubá. Ah, claro, e por se emocionar toda vez que fica longe dos meus filhos muito tempo. A gente sente o seu amor, dá quase para pegar. Obrigado ao meu paizinho lindo, paixão da minha vida, por viver por mim e pela sua obsessão em sempre dar tudo igual para seus filhos. É furada mas é linda. Obrigado aos meus irmãos Felipe e Victor por me definirem. E ao meu irmão postiço Denis Rodrigues por ser meu irmão postiço.
Obrigado ao meu marido, simbiose minha, por transformar tudo em algo possível. E por seguir do meu lado. E por ter me dado uma taça gigante de vinho no natal.

A minha vida, entendo, é feita de pessoas e é por isso que agradeço a elas hoje. Porque ninguém vive tempo suficiente para aprender tudo e é preciso observar. Acho que é a isso que eu agradeço, ao final, às pessoas que me cercam e me fazem feliz.

Nenhum homem é uma ilha e mesmo que fosse, eu seria uma exceção.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rapidinhas

Dois coelhos em uma única paulada: Incentivando  a inadimplência mas garantindo o seu: quem fica com a dívida são as operadoras de cartão de crédito.

http://oglobo.globo.com/economia/varejo-mira-na-classe-e-aprova-mais-de-um-cartao-por-compra-3476035

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Ansiosa, em nível máximo, para o meu momento pipoca do ano. AMO filmes de super heróis.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ócio criativo

Natal chegando e todo mundo maluco se jogando às listas de compras e aos cardápios típicos desta época do ano. Mais um ano termina e, claro, no intervalinho entre as festas outra lista que deixa todo mundo surtado é a de realizações. Como foi seu ano? Você fez o que queria ou foi levado pela vida? O que ficou de lado e o que você levou adiante? Cumpriu todos os itens da lista de dezembro do ano passado?


Não vou usar este espaço para falar sobre a minha perspectiva pessoal sobre como a vida passeou por mim em 2011 mas vou dizer que uma das principais novidades se deu em um certo “encontro com mim mesma” ou, como diria Clarice Lispector, digamos que perdi minha terceira perna, que me dava estabilidade e descobri que é só com duas que a gente pode andar.


Amo essa metáfora (retirada, by the way, do livro “A paixão segundo G.H.”, um dos melhores livros que eu já li em toda a minha vida) porque ela é bem “chavão”: a mulher que vivia sua vida estagnada - e nem por isso era infeliz – versus esta nova que descobre que quando se anda para frente virar a esquina pode ser uma grande novidade. Aliás, já dizia Nando Reis algo parecido “segurança é o chão de um imóvel, prefiro as pernas que me movimentam”.




O que me atrai nesta rivalidade existencial é a tendência julgadora que todos nós imputamos para alguns dos lados. Existe uma força natural que nos faz crer que a estagnação é algo ruim, de natureza degradante e que todo e qualquer ser humano neste estágio da vida está passando por uma crise. Eu mesma, por muito tempo, associei felicidade à liberdade de ação e ao estar constante em movimento, afinal, é preciso ir para frente. Reparem que perigo: liberdade = movimento = felicidade.


Que grande babaquice.


Muito antes de eu chegar a esta conclusão, me lembro que a grande Phoebe (essa mesmo, de friends) quando foi pedida em casamento por um delegado de polícia pelo o qual era apaixonada teve esse mesmo insight. Ele disse: “eu acho que nós devemos dar um passo adiante porque quem não anda para frente fica para trás” no que ela respondeu: “isso não é verdade, quem não anda para frente fica parado e ficar parado é ótimo, olha só” e então ela ficou parada sorrindo.


Existem momentos em que é preciso ficar onde se está, digerindo, matutanto, assentando a vida. Olhando para o teto sem fazer nada! Não, não é ouvindo música, é fazendo nada mesmo! Há quanto tempo você não faz absolutamente nada sem se sentir entediado?


Pois é...


A gente tem tanta mania se associar o “estar parado” a algo ruim que esquece que são nesses momentos que nossa mente ganha condições de se projetar. Achamos que estamos indo para frente e muitas vezes estamos apenas indo, ou sendo levados se assim ficar mais claro. E é aí que todas as pessoas (ou personagens) que citei até agora convergem: para ir para a frente de verdade, ás vezes, é preciso estar parado.


Demorei para entender isso. Como tive filhos muito cedo achava (e isto é um consenso universal ao que me parece) que minha liberdade estaria condenada pelos próximos 18 anos e que isto seria o lado ruim da maternidade. Mea culpa, fui ingênua e despreparada (e isso sim é o lado ruim de ser mãe cedo!), mas o tempo mostrou que a liberdade não tem nada a ver com mobilidade e, de longe, com o fato de ir para frente ou para trás. Foi ficando no mesmo lugar, presa nas madrugadas dando mamadeira e trocando fraldas, dançando a galinha pintadinha na hora do almoço e gastando 1/3 do meu salário em fralda e leite, que subi níveis inatingíveis para alguns no entendimento do ser humano. Foi socada num quarto escuro tentando driblar o resfriado do meu filho que aprendi a ser paciente. Foi na dureza da minha conta bancária que aprendi que (de verdade!) que dinheiro não é mesmo tudo na vida. Foi pela ausência de tempo com meu marido que entendi o quanto eu o amava e precisava dele por perto.


Ganhei muitas expectativas, fato, mas não gosto do clichê que é preciso sofrer para ver o lado bom da vida. Nada disso foi penoso, embora difícil, é uma construção dúbia, onde o sorriso e a ruga de preocupação crescem lado a lado.


Um bom final de ano, com menos gastos e mais ócio criativo, fica de desejo sincero. Leiam Clarice, escutem Nando e vejam as reprises de Friends. Ajuda!  

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

com feeling


Eu já suspeitava mas essa semana tive a confirmação final: existe uma força mágica que rege a escolha dos livros. Mais de uma vez já entrei em livrarias e saí de mãos abanando, boba por não entender como nada tenha me chamado a atenção. Outras tantas já fiquei maluca querendo comprar dezenas de títulos, brigando com o limite do meu cartão de crédito.

Pois bem, isto posto, preciso complementar com a informação de que tenho o hábito de anotar nomes de autores e livros que por acaso me interessam nas revistas, jornais e conversas aleatórias da vida. Mesmo assim, no início da semana entrei na Travessa e comecei a olhar todas as milhares de opções que se escancaravam na minha frente e não lembrava de nenhum!


Tenho uma afeição muito grande por títulos, preciso confessar. Mais de uma vez já comprei livros de totais desconhecidos por chamadas instigantes. Foi assim que conheci Tati Bernardi, por exemplo (com o livro “Tô com vontade de uma coisa que eu não sei o que é”) e, exemplo dos exemplos e muito das antigas (bem antes da primeira edição do Saia Justa no GNT), Fernanda Young em “As pessoas dos livros”. Mas ontem não foram os títulos, não foi a capa, não foram os destaques nem os lançamentos. Não foram os clássicos, não foram os bobinhos e muito menos os cabeça. Foi puro feeling.


Olhava para os livros e me perguntava: eu quero ler sobre uma mãe que ficou trancada com o filho por 5 anos em um quarto? Eu tô mesmo a fim de entender porque as pessoas criticam tanto Freud ou realmente quero saber mais sobre a vida de Lacan? Culinária, vinhos? Ou o último livro de moda de edição lindíssima e ilustrações invejáveis ambientado em Paris? Quem sabe entender mais sobre o sofrimento da Piaf... Ou aposto nos best seller da NYT? Não... me sinto traindo o movimento.


As opções são muitas e o tempo de vida é pouco. Me sinto pressionada a escolher bem. Olho para o canto, um azul bonito me chama atenção, seguida pelo nome hipnotizante de Fernando Sabino. São cartas?! São cartas. Escritas por Otto Lara Resende ao amigo Sabino ao longo dos anos. Se tem uma coisa que eu quero saber nessa vida é como são as grandes pessoas por dentro, como se relacionam, como são fora de seus livros. A pressão sumiu e mesmo este sendo o livro mais caro da minha pré-seleção, confiei.


Ainda bem.


Meu santo é forte e meu sexto sentido, imbatível. Cola no seu que você vai se dar bem também.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Das Clarices e Amandas

Peço desculpas a quem me lê pela ausência de tantos dias. Sim, foi necessário, muitos trabalhos a fazer e coisas a colocar em ordem dentro da caixola. Assim feito, vamos em frente!



Quem tem visto a minissérie “A mulher invisível” que passa na globo todas as terças lá para as tantas da noite (depois da sensacional “Entre tapas e beijos”) deve ter tido a mesma força estranha puxando o canto da boca, ensaiando um pequeno riso amarelo, como ontem me ocorreu. Preciso dizer, amo o Selton Melo e já tenho uma tendência natural a ser benevolente com tudo o que ele faz antes mesmo de assistir. Porém, como nem tudo na vida são sentimentos positivos, detestei o filme que dá nome a minissérie. Sem graça, arrastado, com um final clichê boring.. zzzz.


Mas, ontem, ah, ontem! Que diferença!  


Fui buscar o nome dos roteiristas que me escaparam na abertura e encontrei os nomes de Guel Arraes, Leandro Assis, Cláudio Torres e Mauro Wilson. A fonte não foi exatamente segura, então me perdoem se estou passando uma informação equivocada. Se estiver correto, confesso que choquei: sério que foram 4 homens que escreveram o roteiro de ontem?


Resumindo: o casamento de Clarice e Pedro está em crise porque ele não enxerga nela a mulher perfeita, que seria, no caso, a invisível, Amanda. O idiota deixa ela perceber isso e Clarice, com ego ferido, se sente tentada a se envolver com um outro rapaz que a enxerga de tal forma. Até aqui, problema zero, texto e temática total masculina, principalmente a forma da tal mulher ideal em choque com a real. Me veio na cabeça aquela velha história de “mulher para casar” e comparar esse clichê com a personalidade de Clarice e Amanda foi extremamente fácil, mesmo com as adaptações modernas.


Amanda é linda, gostosa, toma cerveja, ama sexo e se diverte com jogos de videogame de tiros. Não reclama de nada, está sempre a postos para servir seu homem da forma que melhor lhe convir e desaparece quando ele quer.


Clarice é independente e poderosa. Se veste com personalidade e cobra atenção, almoço na mesa, briga com a sogra. Enche o saco dele e tá sempre cobrando posturas melhores, carinhos constantes e amor incondicional.


A grande sacada destes caras quando escreveram o texto se revelou em uma das cenas finais está em um discurso feito por Amanda quando ela tenta convencer Pedro a ir atrás da mulher: Ela lhe explica que Clarice, na verdade, é a mulher que possibilita a existência de Amanda: “Eu sou todas as mulheres que você imagina ter perdido porque escolheu a Clarice. Sem ela, eu não existo!”




De repente eu entendi todo o propósito deste disparate. Que ninguém nunca vai ser ideal, todo mundo sabe, mas o que as pessoas não sabem é como lidar com isso. Pedro criou uma alternativa imaginária para lidar com sua frustação e ela é a única responsável por fazer seu casamento dar certo. Porque ele não responsabiliza sua mulher por todas as outras coisas que ele julga ter aberto mão por ela. Sem transferência. Sem culpa.


O lado feminino é que sai perdendo. Impossibilitada por nossa natureza romântica, Clarice não consegue ter um backup imaginário. Porque não é isso que nos faz completas: precisamos nos sentir amadas fulltime pelo mesmo homem, não por todos os machos do planeta. Talvez se ela tivesse um Pedro imaginário... humm..


Meninos, gênios.
Falaram de ego, de frustação, de escolha e de tudo o que ela implica. Entre homens e mulher, sobre homens e mulheres. Foram sutis, precisos e extremamente sensíveis também ao universo feminino, às nossas mulheres poderosas e independentes.


Tem certeza de que não tem um toque feminino nessa escrita não???!!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

dos anos 40 à década de 80 e nada exatamente mudou.

Meu marido me mandou um e-mail dizendo que tinha nos comprado um presente. Abaixo de sua assinatura, o tal: a assinatura completa de todos os canais de filmes da nossa tv a cabo. Dependendo da sua idade você pode achar isso um presente de grego ou o maior já dado a alguém. Entendo isso. Para ficar claro, vou explicar o nosso lado da moeda.
 
Quando nos conhecemos víamos uma média de 5 filmes por semana, entre clássicos, releituras e lançamentos. Ora no cinema, ora no conforto do lar. Meu primeiro presente para ele, me lembro bem, foi um aparelho de DVD, super moderno na época, que parcelei em 10X no cartão de crédito do meu pai. Hoje, 8 anos depois, muito de nosso tempo livre é passado em casa ou a mercê dos nossos filhos. Pegue este noite como exemplo, são 24hs de uma sexta, a babá foi embora e nos restou aquela cervejinha salvadora do final da semana. O mais velho vê Karatê Kid no quarto, o mais novo dorme. Eu, me delicio com nosso presente. O cinema sempre fez parte importante da nossa vida, no momento em que tínhamos o poder de decidir aonde ir quando queríamos e ainda hoje, quando a vida já não nos possibilita tanta liberdade.
 
Não há palavras para descrever o poder que o cinema tem sobre mim. Não há vírgulas que bastem para descrever os dois filmes seguidos que assisti em um dos canais que faziam parte do nosso presente. Não há conforto maior em estar perto de uma pessoa que não só entende, como compartilha desse fanatismo doido.
 
Mas uma coisinha eu posso pontuar (ou não seria eu, não é mesmo?). Piaf, um hino ao amor, embora tenha sido produzido em 2007, fala sobre vida da espetacular da parisiense Edith Piaf que teve seu auge de sucesso na casa dos anos 40. Footlose, clássico dos clássicos, produzido em 1984 por lá ficou buscando um retrato fiel do que juventude da época buscava para si. Um não tem nada a ver com o outro e eu poderia dizer que apenas a minha nostálgica animação por vê-los seguidos poderia interligá-los. Mas há sim, uma linda coincidência. Vejam por si sós:
 
"You'd be fine if you'd only cut loose, footloose
Kick off your sunday shoes
Oohee, marie shake it shake it for me
Oh milo, come on, come on let's go
Lose your blues everybody cut footloose

You've got to turn it around
And put your feet on the ground
Now take a hold of both" ------------------------------------ Footlose pontuou.
 
"Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!" --------------------- Piaf concordou.

Sem mais e obediente, como sempre, termino mais uma semana, jogando os sapatos e varrendo minhas angústias. Contente, vou durmir.
 
Inté!
 
Obs: Na íntegra, as suas cenas finais e suas letras (com as devidas traduções!)
 
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!


Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!


Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...


Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!


Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!


Não, Eu Não Me Arrependo de Nada

Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo tanto faz!

Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!

Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!

Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo tanto faz!

Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!
 
 


Footloose

Been working so hard
I'm punching my card
8 hours for what?
Oh tell me what have i got
I got this feeling
That time's just holding me down
I'll hit the ceiling or else i'll tear up this town

 
 
Now i gotta cut loose, footloose
Kick off your sunday shoes
Please louise hold me off of my knees
Jack, get back
Come on before we crack
Lose your blues everybody cut footloose

You're playing so cool
Obeying every rule
Dig way down in your heart
You're burning, yearning for some-
Somebody to tell you
That life ain't passing you by
I'm trying to tell you in a way that you don't leave town

You'd be fine if you'd only cut loose, footloose
Kick off your sunday shoes
Oohee, marie shake it shake it for me
Oh milo, come on, come on let's go
Lose your blues everybody cut footloose

You've got to turn it around
And put your feet on the ground
Now take a hold of both
Everybody cut, everybody cut
Everybody cut, everybody cut
Everybody cut, everybody cut
Everybody, everybody cut footloose

Sem Regras

Tenho trabalhado tanto
bato meu cartão
oito horas...pra que ?
Digam-me o que é que eu ganho
E tenho essa impressão
de que o tempo só está me estorvando
ou eu vou explodir ou farei esta cidade em pedaços!
 
Agora eu vou relaxar, sem regras
Jogue longe os seus sapatos de domingo
por favor, Louise, arranque-me dos meus joelhos
Jack, volte aqui
vamos lá, antes que tenhamos um ataque
Deixe sua apatia, todo mundo sem regras

Você está fazendo tudo direitinho
Obedecendo todas as ordens
Mas dê uma olhada no seu coração
Você está-se roendo, louco pra que
Alguém te diga
Que a vida não está te deixando pra trás
Eu estou tentando dizer de um jeito que você não precise deixar a cidade

Você ficará bem se relaxar, sem regras
Jogue longe os seus sapatos de domingo
Oohee, Marie, mexa, mexa pra mim!
Oh, Milo, vamos, vamos lá!
Deixe sua apatia, todo mundo sem regras

Você tem que virar essa situação
E colocar os seus pés no chão
Agora segure-se nos dois

Todo mundo fique, todo mundo fique
Todo mundo fique, todo mundo fique
Todo mundo fique, todo mundo fique
Todo mundo, todo mundo fique sem regras

Para entender a crise na Grécia de forma objetiva.

Um infográfico animado criado pela Videoinfographs.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Apego

Para ficar claro: eu sou uma pessoa apegada. Faço tudo com amor, mesmo o que não emprego tanta eficiência, e me apego. E tem outra também, sou exibida. Na sociedade que se divide entre vouyer e exibicionista, eu me encaixo no segundo grupo. E faz até sentido, convenhamos. Horas e horas desvendando (e se apaixonando!) um Mac + os mistérios da Adobe (duplinha danada de boa composta pelo photoshop + in desing), somados ao mundo lúdico de Carlos Drummond de Andrade, só poderiam resultar eu um momento "euquefiz!".
Então, meu povo, eu que fiz! A fofura não é digna da careca dele? Se eu detivesse os poderes da licença poética que meu professor me concedeu, assim sairia (inclusive com a primera coluna em branco que, sob protestos, mantive no projeto geral! Sou muito avançada para a minha época.. rs)
Desculpem os usar como cobaias. E, pessoas especializadas nisso, por favor, não cortem o meu barato. Não pretendo levar isso como profissão futura, não se preocupem! um pouco de inocência não faz mal a ninguém.

Happy Black Friday para todos!


Amo tanto que dói.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Manual de sobrevivência da alma Peter Pan


 Venho por meio desta informar que quem esperava um retorno cômico da minha saga com a laranjinha do Itaú será desapontado. Desde o fatídico dia em que um gringo me salvou no calçadão de Ipanema, aprendi minha lição e tudo corre como deveria. Para ficar claro e visando todas as pessoas que, como eu, possuem traumas infantis e gostariam de resgatá-los no presente, segue um pequeno manual de sobrevivência do nosso lado Peter Pan baseado em todas as cagadas que cometi nesta única semana:



1-       Deus! Se planeje. Poderia resumir tudo em apenas este item mas não teria graça alguma e pareceria mais simplório do que realmente é. De qualquer forma esse é passo primeiro, o que ignora a impulsividade e fixa o lado adulto pé no chão para que nenhum acidente mais sério aconteça. O que nos leva ao...


2-       Jogue-se, mas nem tanto! Para ser criança depois dos 18 só com licença poética assinada e carimbada do seu juízo. Afinal de contas se tem um ditado popular que todos nós descobrirmos depois de adultos como verdade absoluta é o famoso “quem tem c.. tem medo!”



3-       Controle sua ansiedade e seu medo do ridículo. Esse item é primordial porque a gente tem mania de ter medo do ridículo depois de velho (antes da senilidade, claro, onde tudo volta a ficar divertido de novo). Ria dele, ou se esforce para isso. Deixa a vida mais leve.



4-       O medo de se machucar, real, deverá ser substituído pelo seu alto poder de controle emocional (que, sim, você possui!!) através de um novo foco: o prazer de ter adrenalina correndo nas suas veias, tremendo suas pernas e acelerando seu coração. Andar de bicicleta, skate, patins, surfe ou seja lá o que você gostaria de fazer não mata ninguém, ao menos não a prática amadora (e responsável!) dos esportes. Ralados e cicatrizes revelam histórias para contar.



5-       Use roupas apropriadas, deixa a feira para outro dia e diminua o tamanho da bolsa. Inglês fluente é desejável, assim como um bom relacionamento pessoal e um pedido de desculpas bem convincente.



Parece difícil mas eu juro que não é. Essa é a parte boa em ser adulto, os monstros do armário ficam bem pequenininhos quando a gente dá um grito mais alto que eles.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Inovando e rodando!

“Inovar é um processo cumulativo. É pegar coisas que você já conhece, mas combiná-las de maneiras que você desconhece. Também é fundamentalmente desafiador, pois todos nós formamos hábitos nos quais nos apoiamos incansavelmente. Como tal, a inovação exige a capacidade de sair da zona de conforto – ex. colocar seu ego de lado e se tornar um iniciante de novo – e estar disposto a ver as coisas por uma nova perspectiva. É como em Flatland, onde uma esfera tridimensional está tentando explicar ao quadrado de duas dimensões que a terceira dimensão realmente existe. É quase impossível, e exige um esforço monumental do quadrado para entender que é verdade.

Então, qual é meu ponto com tudo isso? É que, todo dia, nós colaboramos com pessoas que, de um lado, estão pedindo inovação. Dizem que querem fazer coisas novas e fantásticas; campanhas, eventos, novos produtos, mas, do outro lado, tem agendas políticas e pessoais que, consciente ou inconscientemente, as previnem consistentemente de dizer sim às coisas que permitirão que a inovação aconteça. É impossível inovar permanecendo estático, mas você não consegue garantir que as coisas que você tem agora fiquem do mesmo jeito uma vez que você começa a se mover.”

Não é mentira, quase chorei de emoção quando li a coluna de hoje do unplanned escrito por Lizzie Shupak, Sócia e Concept Development & Strategy na Wok+Wine (http://unplanned.com.br/destaque/sobre-ser-inovador/) . Eu concordo tanto com isso que beirou o dejavú, ou, no mínimo a sensação, de que alguém entrou na minha cabeça e roubou meus pensamentos mais confusos. Porque, na real, isso tudo é mesmo uma grande confusão. Parafraseando a autora do texto (e morrendo de inveja do quão clara ela conseguiu ser!): “É impossível inovar permanecendo estático, mas você não consegue garantir que as coisas que você tem agora fiquem do mesmo jeito uma vez que você começa a se mover.”

As pessoas querem inovação, tem em seus desejos mais profundos o desejo secreto de ir cada vez mais para frente mas tem muita dificuldade em abrir mão do conforto adquirido de tudo o que já foi estabelecido. Nada contra àqueles que amam estar aonde estão, isto é uma opção linda de vida. O quiproquó se instala quando negamos esta força interna que nos mantém feliz paradinhos onde estamos. É preciso coragem para ir. Mais ainda para ficar. Só não dá para ficar no meio do caminho.

Aliás, parênteses necessários, poucas atitudes são mais irritantes do que a de viver em cima do muro. Atitude é tudo nessa vida, mesmo que a sua seja ficar mudando de lado por adaptação de caminhos. Inclusive, vocês sabem o que aconteceu com o menino que só ficava em cima do muro, né? Nada. Dizem que ficou com muito medo de descer quando anoiteceu.

Back. Lizzie estava se referindo a uma postura muito específica quando escreveu este artigo. Ela falava dos clientes que tanto querem inovação nos briefings e na hora da aprovação cobram estabilidade e segurança. Segurança no território do desconhecido? Desconheço. Nós é quem devemos ter a responsabilidade de acalmar seus ânimos? Em âmbito profissional, sim. De resto, lavam-se as mãos. Eu tenho apenas alguns problemas em separar uma coisa da outra mas isso é impotência minha, acho. Quando imagino um diretor de marketing (exemplo!) aprovando uma campanha, imagino que ele reflita o seu comportamento perante a vida: Você realmente compra essa ideia? Você tem coragem em levar isso adiante? Está pronto para deixar todo o seu conhecimento construído para trás e explorar territórios em expansão?

Lindo, Lizzie, você resumiu a diferença entre quem vai e quem fica em raríssimas linhas. Cabe a cada um vestir sua carapuça agora.

Ouvindo Johnny Cash me despeço, mas não sem antes postar um vídeo que, embora não fale exatamente sobre a ideia acima, também busca desesperadamente ordenar esse “mundo-muderno” louco que a gente sobrevive. Me contem!!


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A laranjinha e eu: uma odisséia na ciclovia de Ipanema

Eu vou contar uma coisa para vocês: eu sou uma pessoa muito legal. Meus filhos são extremamente educados e eu tenho a certeza de que sou uma boa companheira para o meu marido. As pessoas gostam de mim: sou leitora nata, cinéfila, cervejeira, gosto de futebol. Sou engraçada e muito dedicada.

Mas não, eu não sou uma pessoa prática.

Hoje fui trabalhar de metrô, meio que nunca uso visto que a estação da General Osório fica no inicio de Ipanema e meu trabalho na Anibal de Mendonça, final do bairro. Mas hoje tive um desvio de rota antes da labuta e o metrô me pareceu a alternativa mais eficiente, porém, seguido de um ônibus até meu destino.

Quando saltei do metrô dei de cara com um dos bicicletários colocados na cidade pela prefeitura com o apoio do Itaú bem na saída da estação. Mas, claro, como é que eu não pensei nisso antes???

A primeira coisa que fiz quando cheguei no trabalho foi me cadastrar no site (http://www.mobilicidade.com.br/bikerio.asp) e garantir o meu passe por R$ 10,00 pelo período de 1 mês. A partir de hoje resolvo todos os meus problemas com o transporte público do Rio: vou pegar o metrô e em seguida a bike. Pedalo pela orla até a Anibal e a deixo no bicicletário de lá. Na volta, é só fazer o caminho oposto. É agradavél, é saudável, é sustentável, é econômico, é tudo de bom!

Só tem um problema que no auge da minha empolgação não me pareceu tão relevante: Eu não sei andar de bicicleta. Ou, me corrigindo para não soar dramática: eu não aprendi a andar como todos mundo, enquanto criança. Meu pai tentou, coitado, me comprou uma linda biclicleta, me levava para a orla mas eu nunca quis saber, tinha medo de cair. Quando fiz 15 anos resolvi que queria aprender e, novamente, o meu pai me comprou outra bicicleta. Eu até andei mas não mais que duas vezes. 10 anos depois em viagem ao Le Canton eu e meu marido alugamos duas bikes e eu me arrisquei a dar umas voltinhas. E esta é a minha relação com a magrela, nua e crua, em sua totalidade.

Mas isso não importa, claro, porque eu sou uma mulher independente que pode resolver este detalhe em alguns segundos desengonçados. Muito menos o fato de eu estar vestida com um vestido transpassado de tecido levinho. Menos ainda o fato de eu ter feito feira e estar com 3 mamões e 1 caixa de morango em uma sacola enquanto a outra ostentava um pacote de fralda pampers com 60 unidades e uma pasta carregada de textos que ando lendo.

Na volta para casa, fui eu para o bicletário da Anibal garantir minha laranjinha. O processo foi super simples e em segundos ela já estava comigo na ciclovia. A partir daí o peso da minha ansiedade se transformou em uma comédia pastelão.

Vendo a minha dificuldade em ajeitar o selim e decidir onde colocar todas as minhas sacolas e bolsa, um cara em meio a um grupo de gringos logo esclamou: "Do you need some help?!". Eu, me justificando o mais rápido que pude, apontei para as sacolas informando, em inglês, que estavam muito pesadas e que seria muito difícil de equilibrá-las. Tentei de tudo: pendurar no pescoço, apoiar no braço, socar todos os itens na micro cestinha da frente, nada parecia ter jeito. Até que me pareceu mais lógico (!!) dividir o peso e pendurar uma em cada lado do guidon. Voilá!

Isto feito, chegou o momento de subir na biclicleta. E, juro, não havia cristo que me fizesse mover um mísero centímetro aquelas rodas. Quando me dei conta o gringo estava de volta, fazendo apoio no selim e bradando:"it's ok! I'll push you!!"

Aceitei a gentileza e embalei algumas padaladas sem jeito enquanto gritava "thaaankk youuuu!" E ele, ao fundo: "Just keep going!!. Obedeci.

Foi tenso. As sacolas batiam na roda e me faziam tender para o lado. Para me equilibrar acelerava o máximo que minhas pernas sedentárias podiam aguentar e isso só aumentava o meu pavor: Estava contra o vento e meu vestido ameaçou levantar. No reflexo, a mão segurava o vestido e a bicicleta tombava. Ou freiava bruscamente ou ia parar no meio fio: na sequência de três vezes que isto aconteceu, a pessoa que seguia atrás me rogou um pequeno palavrão sussurado. Juro que eu um momento escutei um rapaz falando para o filho do calçadão: "Olha! Ela está aprendendo a andar de bicicleta!"

Não estava dando certo. Enquanto me dava conta do perigo ambulante que eu era em pleno calçadão de Ipanema, meti o lado esquerdo do guidon no braço de um corredor. Andei o suficiente para sair da vista dele e achei por bem que era melhor terminar o percurso a pé.

Convenhamos, é preciso muito coragem para aprender a andar de bicicleta em plena Ipanema em horário de verão. Não vou nem citar minha idade e o quanto ridículo foi cada pedalada na laranjinha mas, em minha defesa, posso afirmar que aquela ciclovia não é para amadores não. Parece fácil quando você vê de longe mas o povo anda super embalado, com fones nos ouvidos e olhos fixos à frente. Tá bem, eles tem anos de experiência a mais do que eu... mas a verdade é que ninguém tem muita paciência com adulto que resolve suas questões infantis em pleno espaço público.

Ao invés de chegar ao metrô com as pernas doloridas da pedalada, cheguei com as duas trêmulas e o que dóia mesmo era meu braço direito, o apoio da magrela na caminhada final até meu destino. De qualquer forma, a adrenalina me corria pelas veias e eu fiquei super animada. A gente não deve subestimar o poder desse hormônio no nosso organismo, principalmente nos efeitos que ele tem na nossa sensação de bem estar.

De maluca da ciclovia, passei a ser a maluca do metrô: ria de chorar, sozinha, para o nada, apoiada na pilastra enquanto o trem não chegava. Claro que ia dar tudo errado, o mínimo que eu podia ter feito era ter vestido uma calça jeans e não ter feito feira, Deus! 

Se importa? Não. De uma certa forma eu não tenho mais medo de ser ridícula se eu achar que vale a pena. Amanhã eu tô de volta, com um pouco mais de prudência, claro. Mas tô de volta. Prometo que se eu cair eu conto! Por favor, não torçam para isto acontecer, sim?!

sábado, 19 de novembro de 2011

O caos. Terra de ninguém.

Eu já tinha visto no mural de algumas pessoas algumas reflexões a respeito da temática do filme "O preço do amanhã" que me fizeram ficar ainda mais curiosa para dar um pulinho no cinema. Tudo bem, era a minha segunda opção, queria mesmo ver o filme do menino de biclicleta dos irmãos belgas mas, antecipando o filme, eu não sou mais dona do meu próprio tempo e a única sessão que consegui pegar foi essa (também tinha a opção da saga dos vampirinhos mas adolecentes deprimidos não faz muito meu estilo pessoal).

O Justin era só um detalhe em um filme que tinha a Dra. 13 e o Leonard no elenco, convenhamos.

Enfim, comentários sériemaníacos a parte, sigamos. A história gira em torno de uma realidade futura onde nossa moeda passa a ser o tempo que temos de vida. Resumindo: quando nascemos temos 25 anos de bônus e até lá não passamos por muitos sustos. A partir de então cada minuto do seu dia precisa ser conquistado (leia-se, trabalhado) para que você possa viver. Se eu pudesse fazer um paralelo com os dias de hoje diria que não é possível viver no negativo do banco neste futuro imaginado: ou se tem, ou se morre.

A ideia me parece brilhante e extremamente atual. Quem não sofre de ausência de tempo? Me lembro bem de tempos em que a recomendação dos médicos era a de que precisávamos de, no mínimo, 8 horas de sono. Hoje são 7hs. Que mutação nosso corpo sofreu em metade de década que justifique essa redução?

Enfim, críticas ao sistema a parte, sigamos. Quando o mocinho, Justin, encontra a mocinha, garota da capa vermelha, eu me lembrei da "Dama e o Vagabundo": no meu mundo é assim, no meu é assado, vamos dividir esse macarrão e se apaixonar perdidamente.

Quando ele a sequestra e ela acha isso super normal, me lembrei de "Ata-me", com o louco do Almodóvar transformando o Antonio Bandeiras em um psicopata romântico.

Quando ela resolve vestir um sobretudo por cima de um mini macaquinho colado, desses tipo fraque, que é mais curto na frente, plus salto mega alto, plus franjinha e olhos marcados de lápis preto, me lembrei da Angelina Jolie em... em qualquer filme que ela faz onde é uma justiceira mega ultra super sexy e feminina.

Quando os dois começam a combater tudo e todos para roubar dos ricos e doar para os pobres e ficam repetindo: É roubo se já foi roubado?, me lembrei do Robin Hood na versão contada em Shrek 1, onde ele é um pela saco insuportável em quem a Fiona mete a porrada.

Quando eles sobem a escadaria de um mega banco, ele lindo, ela poderosa, sozinhos, enfrentando todo o sistema, me lembrei de "Born to kill", do Tarantino com um final mais parecido com uma versão do James Cameron. (Nesse momento me atentei especialmente ao salto da mocinha e me lembrei da minha amiga Elaine Monteiro que é única que eu conheço que se equilibra no 426 com um salto 20 e nunca, nunca! perde a elegância. Ela deveria ser dublês para este tipo de cena...)

Enfim, momento pessoais a parte, sigamos. Sim, eu saí com a problemática "O que ando fazendo com o meu tempo" na cabeça e, mais ainda, não consegui parar de pensar no fato de que o caos se instala no momento em que o filme acaba. Outra referência, esta angustiante, me tomou de assalto ao me lembrar de "Ensaio sobre a cegueira", o filme, não o livro, porque a trabalho psicológico do Meirelles merece esse destaque na memória.

O caos. Terra de ninguém.

A gente passa a vida inteira torcendo por um momento aonde a ordem se inverta e as diferenças diminuem mas ninguém para pensar que tipo de ordem se mantém enquanto as diferenças persistem. Não estou fazendo apologias à nada, nem poderia me arriscar a isso neste momento. Mas fiquei angustiada com a possibilidade de que tudo o que eu acredito ser a solução para um problema macro seja apenas a criação de um novo.

Bela mensagem muito mal passada, seria minha crítica se este poder eu tivesse. Roteiro fraco e pouco convincente para um tema que merecia ser explorado de forma mais lúdica e centrada.

Bom finalzinho de sábado!

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"No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho"