quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Uma salma de palmas para Sr. Allen.

Foi hoje mesmo que estávamos conversando sobre alguns ídolos e, ao explicar minha obsessão pelo Woody Allen logo escutei: você é ainda esquisita que eu que amo o Marcelo Serrado. Foi Marisa, minha companheira da esquerda, que se espantou quando afirmei que se o visse na frente iria dar um beijo na testa dele.


Ah, sim, um beijo na testa. Woody Allen não é só um cara que faz filmes, ele é uma lenda viva. Primeiro pela sua capacidade de produção que é incomparável. Mas, principalmente, por ser o único profissional do ramo que tenho conhecimento que possui financiamento ininterrupto para os seus devaneios. Sim, claro, ele anda tendo algumas dificuldades dentro das américas e anda ciscando lá pela Europa. Houve até um burburinho afirmando que ele poderia vir filmar no brasil (palpitações) mas ele mesmo já afirmou que tem receio pelo calor. Sábio, este senhor, que consegue perceber e assumir suas limitações. E ele pode, ah, ele pode.

Ele fez Annie Hall (“noivo neurótico, noiva nervosa”, em português) e só por este filme ele já não precisaria mais fazer nada. Diane, linda, a mulher com mais personalidade que vi no cinema e que me fez crescer achando que a forma certa de se vestir era a que a gente achava bacana. Anos depois li um livro chamado “Entrevistas com Woody Allen” escrito por Eric Lax, um jornalista que acompanhou Woody por longos anos, onde ele contava que a figurinista de Annie Hall ficava desesperada porque Diane não queria vestir as roupas que ela selecionava para ela. Ia até Woody, buscando intervenção e dizia: “Ela é a protagonista! Não pode aparecer vestida desse jeito!” Ele contou para Lax que quanto mais a figurinista dizia que ela estava terrível mas sucesso a personagem de Diane fazia. Lição nº 1.

Além disso, temos Woody atuando e afirmando que não poderia dirigir porque tinha muita hostilidade e todo o seu nervosismo com figuras de autoridade. E a cena da lagosta, ah, a cena da lagosta. Para mim, o resumo do que um relacionamento amoroso deve ser. Lição nº 2.


Claro, impossível não citar a cena da fila do cinema onde o personagem de Woody simplesmente retira Marshall McLuhan de trás de um pôster para calar a boca de um pentelho metido a intelectual. “ah se a vida fosse sempre assim...”.




Eu poderia escrever horas a fio sobre cada cena. Posso falar de “Hannah e suas irmãs” e posso falar da “veia Bergman” de “Interiores” e da metalinguagem de “A Rosa Púrpura do Cairo”. Claro, posso citar a linda dança de “Todos dizem eu te amo” e a presença de NY marcada em vários filmes destacada em “Manhattan” tal como posso citar as musas Diane Keaton e Mia Farrow . Posso chegar mais pertinho e falar de Scarlet em “Scoop”, “Match point” e “Vicky, Cristina, Barcelona” e, claro, Penélope Cruz, maravilhosa neste último. Cito o nostálgico “Meia noite em Paris” e o genial “Whatever Works”. Meu dia ia ser longo (e delicioso!).




Mas vou só falar que este reservado senhor alegrou a minha vida tantas e tantas vezes que não teria como não venerá-lo. Ele me ensinou a não ter medo de produzir e, principalmente de errar, porque ele também fez muita merda (mais recente “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” mas passando por pérolas como “Celebridades” e “Tudo o que você queria saber sobre sexo e nunca teve coragem de perguntar”). E ele me mostrou a beleza. E que é possível ser engraçado sem ser piegas. Criatividade. Inovação. Humor. Amor. Cumplicidade. Raciocínio.


Por isso, afirmo e reafirmo, sr. Allen. Se desistir do calor e aparecer por aqui, hei de dar um beijo na sua testa e agradecer. Por mais estranho que isso possa soar.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Free

Sem desculpas financeiras para leitura: 100 clássicos para baixar em segundos, totalmente free.

http://www.advivo.com.br/node/722364

Sou chata mesmo. Mas cola em mim que você vai se dar bem! ;)

Thanksgiving

Todo mundo critica para caramba a influência norte americana na cultura brasileira. Eu concordo. Não por achar que a nossa é melhor do que a deles, não acredito em superioridade cultural em qualquer nível, mas por achar que o que se importa não é, digamos, o melhor do povo do Tio Sam. Estava fuçando, dia desses mesmo, material da Tropicália e resolvi entender um pouco mais do movimento. Fácil associar Caetano e Gil e cia, mas eu gosto mesmo é do Jackson do Pandeiro e seu bibope que sola! Mas o mais legal é tentar vê-lo como reação, no caso contra a Jovem Guarda que adorava fazer sucesso com a música alheia. Adoro esta coisa física de ação versus reação. É exato e é preciso, a gente só se coça mesmo quando se sente ameaçado ou ofendido em algum nível. O próprio Caetano, também esses dias, em entrevista ao Jô disse que quanto mais bravo ele ficava mais racional ele se mantinha. Caetano é porreta, isso é difícil para diabo. Admiro-o por tal façanha, que fique registrado.

Mas estou perdendo o foco (como o de costume!) voltemos ao nosso tratado de importação e exportação. Os americanos tem um feriado que eu acho muito legal chamando thanksgiving, não é novidade para ninguém, ele é mais falado que o réveillon na times square ou o natal no central park, mas eu queria entender porque a gente não absorve essa prática linda de fazer uma refeição em agradecimento.

A que? Os motivos encheriam uma lista maior que a dos presentes do papai noel, aposto, é só olhar com carinho. No natal a gente só pede e gasta para tentar suprir tanta necessidade. No ano novo a gente pede ainda mais, dessa vez para o próximo ano inteiro! Quanta energia canalizada para o querer, não? Não sei quem absorve isso (cada um com seu cada um, EU não sei e estou feliz com minha ignorância, antes que alguém pergunte) mas que é muita carga isso é. Quando é que a gente agradece?

Pois bem, tenho meu thanksgiving pessoal e tenho orgulho de dizer que ele faz parte da minha vida. Mas no auge do meu espírito natalino resolvi compartilhar, ao menos a ideia, com a mais ingênua expectativa de que algumas pessoas sigam meu humilde exemplo e façam seus levantamentos. Não, não sou uma pessoa de alto grau de relevância  na web, podem checar. Formiguinha, sigo. Ah, claro, por favor, façamos um esforço mental para não cair nos clichês saúde, amor e tranquilidade, vamos cultuar os pequenos momentos em que a gente realmente quis falar um obrigado gigante e não tinha como ou para quem ou esqueceu mesmo.

Valeu NBS por ter me ajudado a achar o lugar do trabalho na minha vida e por engordar meu currículo. Obrigado Sabrina Frota, minha eterna supervisora, por me enervar com sua mania de perfeição que me acompanha e garante o selo de qualidade nas minhas apresentações (que já me renderam várias estrelinhas, by the way).
Obrigado Marisa Lemos, pela companhia todos os dias. Sem você seria bem mais difícil. Ah, sim, um beijo para Julia Ribeiro que mesmo sem perceber me reforçou o sentido da sinceridade na vida de cada pessoa.
Obrigado ao meu filho Matheus, por ter aprendido tão lindamente a ler e a escrever e por gostar disso! E por ser uma pessoinha tão companheira e amiga mesmo quando seu espaço foi invadido por uma pessoinha mais inha ainda que sabe ser barulhenta de vez em quando. Obrigado meu filho Lucas por ter vindo em um momento tão perfeito e me fazer curtir, de verdade, um bebê de pernas gordas e sorriso farto em casa.
Obrigado a querida Érica. Seu amor por meus filhos já faz de você uma das minhas pessoas favoritas no mundo.
Obrigado aos meus compadres e comadres lindos. As pessoas de alma mais limpa que já topei.
Obrigado às minhas amigas Patricia Gressler e Litza Godoy pela lição aprendida. Vida dá tombo, a gente sacode, toma um porre de prosecco na balada dos adolescentes e volta linda para ver onde mais vai dar.
Agradecimento especial a Fábio Malcher que consegue transformar seu trabalho em algo efetivamente produtivo para a vida dos outros. Eu transformo a vida dele em um inferno e ele está sempre com a mesma disposição. Invejável.
Obrigado a Maria Amorim pela publicação de seu livro. O sonho da gente também se realiza nas pessoas que a gente ama. Um super obrigado a Jorgen Alden que ainda povoa nossa vida com sua energia positiva e sua trilha sonora impecável.
Obrigado ao tio Guilherme e Dona Lucinda pelo o que ficou para trás.
Obrigado a Amadeu Fernandes, outra lição de amor viva, que deve sempre ser observado de pertinho. Obrigado a minha mãe, por ter cuidado de mim e de toda a minha família quando pegamos virose e por trazer doce de leite, pão de queijo e pé de moleque toda vez que volta de Itajubá. Ah, claro, e por se emocionar toda vez que fica longe dos meus filhos muito tempo. A gente sente o seu amor, dá quase para pegar. Obrigado ao meu paizinho lindo, paixão da minha vida, por viver por mim e pela sua obsessão em sempre dar tudo igual para seus filhos. É furada mas é linda. Obrigado aos meus irmãos Felipe e Victor por me definirem. E ao meu irmão postiço Denis Rodrigues por ser meu irmão postiço.
Obrigado ao meu marido, simbiose minha, por transformar tudo em algo possível. E por seguir do meu lado. E por ter me dado uma taça gigante de vinho no natal.

A minha vida, entendo, é feita de pessoas e é por isso que agradeço a elas hoje. Porque ninguém vive tempo suficiente para aprender tudo e é preciso observar. Acho que é a isso que eu agradeço, ao final, às pessoas que me cercam e me fazem feliz.

Nenhum homem é uma ilha e mesmo que fosse, eu seria uma exceção.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rapidinhas

Dois coelhos em uma única paulada: Incentivando  a inadimplência mas garantindo o seu: quem fica com a dívida são as operadoras de cartão de crédito.

http://oglobo.globo.com/economia/varejo-mira-na-classe-e-aprova-mais-de-um-cartao-por-compra-3476035

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Ansiosa, em nível máximo, para o meu momento pipoca do ano. AMO filmes de super heróis.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ócio criativo

Natal chegando e todo mundo maluco se jogando às listas de compras e aos cardápios típicos desta época do ano. Mais um ano termina e, claro, no intervalinho entre as festas outra lista que deixa todo mundo surtado é a de realizações. Como foi seu ano? Você fez o que queria ou foi levado pela vida? O que ficou de lado e o que você levou adiante? Cumpriu todos os itens da lista de dezembro do ano passado?


Não vou usar este espaço para falar sobre a minha perspectiva pessoal sobre como a vida passeou por mim em 2011 mas vou dizer que uma das principais novidades se deu em um certo “encontro com mim mesma” ou, como diria Clarice Lispector, digamos que perdi minha terceira perna, que me dava estabilidade e descobri que é só com duas que a gente pode andar.


Amo essa metáfora (retirada, by the way, do livro “A paixão segundo G.H.”, um dos melhores livros que eu já li em toda a minha vida) porque ela é bem “chavão”: a mulher que vivia sua vida estagnada - e nem por isso era infeliz – versus esta nova que descobre que quando se anda para frente virar a esquina pode ser uma grande novidade. Aliás, já dizia Nando Reis algo parecido “segurança é o chão de um imóvel, prefiro as pernas que me movimentam”.




O que me atrai nesta rivalidade existencial é a tendência julgadora que todos nós imputamos para alguns dos lados. Existe uma força natural que nos faz crer que a estagnação é algo ruim, de natureza degradante e que todo e qualquer ser humano neste estágio da vida está passando por uma crise. Eu mesma, por muito tempo, associei felicidade à liberdade de ação e ao estar constante em movimento, afinal, é preciso ir para frente. Reparem que perigo: liberdade = movimento = felicidade.


Que grande babaquice.


Muito antes de eu chegar a esta conclusão, me lembro que a grande Phoebe (essa mesmo, de friends) quando foi pedida em casamento por um delegado de polícia pelo o qual era apaixonada teve esse mesmo insight. Ele disse: “eu acho que nós devemos dar um passo adiante porque quem não anda para frente fica para trás” no que ela respondeu: “isso não é verdade, quem não anda para frente fica parado e ficar parado é ótimo, olha só” e então ela ficou parada sorrindo.


Existem momentos em que é preciso ficar onde se está, digerindo, matutanto, assentando a vida. Olhando para o teto sem fazer nada! Não, não é ouvindo música, é fazendo nada mesmo! Há quanto tempo você não faz absolutamente nada sem se sentir entediado?


Pois é...


A gente tem tanta mania se associar o “estar parado” a algo ruim que esquece que são nesses momentos que nossa mente ganha condições de se projetar. Achamos que estamos indo para frente e muitas vezes estamos apenas indo, ou sendo levados se assim ficar mais claro. E é aí que todas as pessoas (ou personagens) que citei até agora convergem: para ir para a frente de verdade, ás vezes, é preciso estar parado.


Demorei para entender isso. Como tive filhos muito cedo achava (e isto é um consenso universal ao que me parece) que minha liberdade estaria condenada pelos próximos 18 anos e que isto seria o lado ruim da maternidade. Mea culpa, fui ingênua e despreparada (e isso sim é o lado ruim de ser mãe cedo!), mas o tempo mostrou que a liberdade não tem nada a ver com mobilidade e, de longe, com o fato de ir para frente ou para trás. Foi ficando no mesmo lugar, presa nas madrugadas dando mamadeira e trocando fraldas, dançando a galinha pintadinha na hora do almoço e gastando 1/3 do meu salário em fralda e leite, que subi níveis inatingíveis para alguns no entendimento do ser humano. Foi socada num quarto escuro tentando driblar o resfriado do meu filho que aprendi a ser paciente. Foi na dureza da minha conta bancária que aprendi que (de verdade!) que dinheiro não é mesmo tudo na vida. Foi pela ausência de tempo com meu marido que entendi o quanto eu o amava e precisava dele por perto.


Ganhei muitas expectativas, fato, mas não gosto do clichê que é preciso sofrer para ver o lado bom da vida. Nada disso foi penoso, embora difícil, é uma construção dúbia, onde o sorriso e a ruga de preocupação crescem lado a lado.


Um bom final de ano, com menos gastos e mais ócio criativo, fica de desejo sincero. Leiam Clarice, escutem Nando e vejam as reprises de Friends. Ajuda!  

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

com feeling


Eu já suspeitava mas essa semana tive a confirmação final: existe uma força mágica que rege a escolha dos livros. Mais de uma vez já entrei em livrarias e saí de mãos abanando, boba por não entender como nada tenha me chamado a atenção. Outras tantas já fiquei maluca querendo comprar dezenas de títulos, brigando com o limite do meu cartão de crédito.

Pois bem, isto posto, preciso complementar com a informação de que tenho o hábito de anotar nomes de autores e livros que por acaso me interessam nas revistas, jornais e conversas aleatórias da vida. Mesmo assim, no início da semana entrei na Travessa e comecei a olhar todas as milhares de opções que se escancaravam na minha frente e não lembrava de nenhum!


Tenho uma afeição muito grande por títulos, preciso confessar. Mais de uma vez já comprei livros de totais desconhecidos por chamadas instigantes. Foi assim que conheci Tati Bernardi, por exemplo (com o livro “Tô com vontade de uma coisa que eu não sei o que é”) e, exemplo dos exemplos e muito das antigas (bem antes da primeira edição do Saia Justa no GNT), Fernanda Young em “As pessoas dos livros”. Mas ontem não foram os títulos, não foi a capa, não foram os destaques nem os lançamentos. Não foram os clássicos, não foram os bobinhos e muito menos os cabeça. Foi puro feeling.


Olhava para os livros e me perguntava: eu quero ler sobre uma mãe que ficou trancada com o filho por 5 anos em um quarto? Eu tô mesmo a fim de entender porque as pessoas criticam tanto Freud ou realmente quero saber mais sobre a vida de Lacan? Culinária, vinhos? Ou o último livro de moda de edição lindíssima e ilustrações invejáveis ambientado em Paris? Quem sabe entender mais sobre o sofrimento da Piaf... Ou aposto nos best seller da NYT? Não... me sinto traindo o movimento.


As opções são muitas e o tempo de vida é pouco. Me sinto pressionada a escolher bem. Olho para o canto, um azul bonito me chama atenção, seguida pelo nome hipnotizante de Fernando Sabino. São cartas?! São cartas. Escritas por Otto Lara Resende ao amigo Sabino ao longo dos anos. Se tem uma coisa que eu quero saber nessa vida é como são as grandes pessoas por dentro, como se relacionam, como são fora de seus livros. A pressão sumiu e mesmo este sendo o livro mais caro da minha pré-seleção, confiei.


Ainda bem.


Meu santo é forte e meu sexto sentido, imbatível. Cola no seu que você vai se dar bem também.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Das Clarices e Amandas

Peço desculpas a quem me lê pela ausência de tantos dias. Sim, foi necessário, muitos trabalhos a fazer e coisas a colocar em ordem dentro da caixola. Assim feito, vamos em frente!



Quem tem visto a minissérie “A mulher invisível” que passa na globo todas as terças lá para as tantas da noite (depois da sensacional “Entre tapas e beijos”) deve ter tido a mesma força estranha puxando o canto da boca, ensaiando um pequeno riso amarelo, como ontem me ocorreu. Preciso dizer, amo o Selton Melo e já tenho uma tendência natural a ser benevolente com tudo o que ele faz antes mesmo de assistir. Porém, como nem tudo na vida são sentimentos positivos, detestei o filme que dá nome a minissérie. Sem graça, arrastado, com um final clichê boring.. zzzz.


Mas, ontem, ah, ontem! Que diferença!  


Fui buscar o nome dos roteiristas que me escaparam na abertura e encontrei os nomes de Guel Arraes, Leandro Assis, Cláudio Torres e Mauro Wilson. A fonte não foi exatamente segura, então me perdoem se estou passando uma informação equivocada. Se estiver correto, confesso que choquei: sério que foram 4 homens que escreveram o roteiro de ontem?


Resumindo: o casamento de Clarice e Pedro está em crise porque ele não enxerga nela a mulher perfeita, que seria, no caso, a invisível, Amanda. O idiota deixa ela perceber isso e Clarice, com ego ferido, se sente tentada a se envolver com um outro rapaz que a enxerga de tal forma. Até aqui, problema zero, texto e temática total masculina, principalmente a forma da tal mulher ideal em choque com a real. Me veio na cabeça aquela velha história de “mulher para casar” e comparar esse clichê com a personalidade de Clarice e Amanda foi extremamente fácil, mesmo com as adaptações modernas.


Amanda é linda, gostosa, toma cerveja, ama sexo e se diverte com jogos de videogame de tiros. Não reclama de nada, está sempre a postos para servir seu homem da forma que melhor lhe convir e desaparece quando ele quer.


Clarice é independente e poderosa. Se veste com personalidade e cobra atenção, almoço na mesa, briga com a sogra. Enche o saco dele e tá sempre cobrando posturas melhores, carinhos constantes e amor incondicional.


A grande sacada destes caras quando escreveram o texto se revelou em uma das cenas finais está em um discurso feito por Amanda quando ela tenta convencer Pedro a ir atrás da mulher: Ela lhe explica que Clarice, na verdade, é a mulher que possibilita a existência de Amanda: “Eu sou todas as mulheres que você imagina ter perdido porque escolheu a Clarice. Sem ela, eu não existo!”




De repente eu entendi todo o propósito deste disparate. Que ninguém nunca vai ser ideal, todo mundo sabe, mas o que as pessoas não sabem é como lidar com isso. Pedro criou uma alternativa imaginária para lidar com sua frustação e ela é a única responsável por fazer seu casamento dar certo. Porque ele não responsabiliza sua mulher por todas as outras coisas que ele julga ter aberto mão por ela. Sem transferência. Sem culpa.


O lado feminino é que sai perdendo. Impossibilitada por nossa natureza romântica, Clarice não consegue ter um backup imaginário. Porque não é isso que nos faz completas: precisamos nos sentir amadas fulltime pelo mesmo homem, não por todos os machos do planeta. Talvez se ela tivesse um Pedro imaginário... humm..


Meninos, gênios.
Falaram de ego, de frustação, de escolha e de tudo o que ela implica. Entre homens e mulher, sobre homens e mulheres. Foram sutis, precisos e extremamente sensíveis também ao universo feminino, às nossas mulheres poderosas e independentes.


Tem certeza de que não tem um toque feminino nessa escrita não???!!

Quem sou eu

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"No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho"