Eu, bicho carpinteiro assumido, voltei a estudar depois de 3 anos fora das salas de aula. Como, mal sei explicar, em uma brecha entre o final do expediente do trabalho e a hora do sono das crianças, lá vou eu para meu revival universitário.
Preciso dizer que muito me assustei em como as coisas em tão pouco tempo mudaram. Me lembro de um período em que a hierarquia entre o aluno e o professor era algo marcante e irrevogável. Hoje vejo uma certa trapalhada, professor tentando ser acessível ao aluno e aluno tentando ensinar para professor. Bons eram os tempos em que a gente sabia que não sabia de nada.
Na verdade, daquela bem lá do fundo, eu não curti muito esse novo ambiente não. Era para achar bom, diz-me meu lado racional, pensa bem: o diálogo é promovido com mais facilidade, os professores precisam se preparar mais tanto para os questionamentos quanto para a penetração na cabecinha da geração y (coisa estranha essa geração). Se demanda mais trabalho, aperfeiçoa e isso é sempre bom. Mas, na bucha mesmo, o que eu vejo na prática é um bando de jovens adultos querendo discutir por discutir. Porque eles tem muita voz, eles querem muitas coisas e eles acham (de verdade!) que já sabem muita coisa. Por outro lado, vejo professores mais ansiosos, até impacientes, com uma aflição muito grande de se adaptar a nova produção de informação. Muitos, até onde eu soube, não se adaptaram. A FACHA na virada de período mandou embora professores antigos da casa (a maioria me deu aula, inclusive), professores que, segundo a nova administração, não conseguiram se adaptar a modernidade.
Engraçado... E eu cheia de lembranças boas das minhas aulas de estética com a Rosângela onde aprendi que valia mais a pena ficar dias estudando um único quadro do Cézanne do que lendo o perfil dos meus amigos no Orkut (na época era o que bombava). Essa mesma aula que me fez colocar uma obra dele no meu blog, 5 anos depois. Cezánne + blog, Cultura + modernidade.
Só tenho a dizer que, comigo, funcionou. Tudo bem, eu sou a geração do meio, eu ainda valorizo muito o que não está online. Eu fiz minhas pesquisas de escola na biblioteca e carregava uma mochila mais pesada que eu, cheia de livros. Vai ver eu não entendo nada mesmo do que a nova geração precisa para se entreter.
Mas confesso que estou bem curiosa para saber como os novos professores estão se preparando para suas aulas. E olha que duas das minhas melhores amigas são professoras e ainda assim eu não sei. A gente ainda anota no caderno ou leva ipad? A fila da Xerox ainda é enorme ou lemos as resenhas das bibliografias da internet? Os novos alunos ainda tem tempo para ler livros?
Coincidência ou não, em uma das minhas aulas – Antropologia do Consumo – fui indicada pelo meu jovem professor Márcio Serafim à leitura do livro “Cultura Popular : uma introdução” do Dominic Strinati. Ainda vou falar muito dessa leitura por aqui mas, por enquanto, para contextualizar, explano uma das citações do livro, de Leavis, pg. 35:
“...Mas o que a primeira vista parece banal torna-se sério quando constatamos que o público em geral (...) não tem atualmente a menor noção dos interesses da literatura, ignora seu desenvolvimento e é incapaz de acompanhá-la, e que, a minoria crítica, que se tornou a única responsável pela literatura moderna, está isolada, rejeitada pelo público em geral e ameaçada de extinção. A poesia e a análise literária não são lidas pelo leitor comum; o drama, como literatura, está morto, e o romance é o único rama da literatura que permanece favorecido”.
Acho que termino por aqui. Ah! Com uma última observação. Esta citação foi feita em 1932. Atualize-se e acho que dá para entender o tamanho do problema.